Pra garimpar na Feira da USP
Como esvaziar os bolsos e encher as sacolas? Entre 13 dicas de poesia, literatura, quadrinhos e ensaios, Kathleen Kelly e Joe Fox te ajudam
#pilhadeleiturasperdidas
Num domingo desses, como parte do programa de educação da minha filha adolescente, apresentei o filme You’ve Got Mail, que no Brasil recebeu o título Mensagem Pra Você. A comédia romântica estrelada por Meg Ryan e Tom Hanks é a segunda adaptação pro cinema de uma peça húngara – só que esta aqui é escrita por ninguém menos que Nora Ephron, o que garante um roteiro inteligente e diálogos idem (por que não existem mais filmes com esse charme?).
Mail tem umas coisas adoravelmente datadas, que, na verdade, voltaram com força total esses dias. O próprio e-mail – onde, aliás, talvez você esteja lendo esta newsletter. E a tese de que, por sua expertise, pequenas livrarias vencerão as megastores. Como se sabe, Kathleen Kelly é dona de uma charmosa livraria infantil (tipo a Miúda, em Perdizes). E Joe Fox é o arrogante megacapitalista que abre uma livraria gigante bem na esquina (tipo a finada Cultura), ameaçando o negócio de Kathleen.
Como se sabe, as megastores morreram de gigantismo, soberba e falta de noção, sem falar em práticas capitalistas mesquinhas. E as outrora frágeis livrarias pequenas vêm ganhando o coração dos leitores, e novos endereços continuam abrindo. Minhas favoritas são a Bibla, em Alto de Pinheiros (a mais bonita de SP), a Livraria da Tarde, a Livraria da Vila e a Travessa em Pinheiros, a Ponta de Lança na Vila Buarque, as duas Megafauna da República, a Simples no Bixiga, a Martins Fontes da Paulista e a Zaccara em Perdizes. Sem falar em sebos bacanudos como o Desculpe a Poeira e o Descabeça.
Tudo isso pra dizer que hoje, quatro de novembro, começa a Festa do Livro da USP. Seguem algumas sugestões pra aliviar o seu bolso. Lembro que nem sempre as editoras colocam na roda lançamentos. Mesmo assim, minha lista pode ajudar você a te guiar pela confusão que é entrar naquele forno cozinhando vendedores, editores e estudantes alucinados. Talvez você não ache os livros aqui indicados, mas pode procurar outros livros do mesmo autor, livros de temática semelhante etc. E se não achar na USP… Está rolando a Festa dos Livros das Livrarias de Rua, até 14 de novembro. com descontos especiais, lançamentos e livros de editoras independentes que você só encontra com livreiros espertos. Que tal procurá-los em sua livraria favorita – que nesses dias vai ficar fungando mais do que a gracinha que é a Meg Ryan resfriada?
13: Esquizofrenias Reunidas, de Esmé Weijun Wang
Um livro fascinante, na linha de Memória de um Doente de Nervos, de Daniel Paul Schreber. A autora, uma estadunidense que descende de taiwaneses, recebe o terrível diagnóstico de transtorno esquizoafetivo do tipo bipolar. Em outros tempos, seria o equivalente a uma sentença de morte. Mas Wang enfrenta o bicho com galhardia e, nestes 13 ensaios autoficcionais, investiga a própria doença ao mesmo tempo em que recria uma história literária da loucura. Ao final, você vai se perguntar, se é que ainda não se perguntou hoje: mas será que eu sou mesmo normal? Tradução excelente de Camila von Holdefer para a Carambaia.
12: Perder o Juízo, de Ariana Harwicz
Na contramão da atual tendência fantástica na literatura hispânica, que tem como maestra Mariana Enríquez, a argentina Harwicz investiga a realidade objetiva através dos estados alterados próprios à feminilidade. Questões como deslocamento, desigualdade nas relações sociais e violência de gênero são tratadas por uma escrita feroz, veloz e alucinante em muitos momentos. Judia, argentina e imigrante como Harwicz, a narradora Lisa Trejman recebeu uma medida protetiva para se afastar dos filhos gêmeos após trocar agressões com o marido. Cansada das breves e esporádicas visitas assistidas aos meninos, mete fogo na casa onde eles moram com o pai e os sequestra. Foge com os gêmeos em um carro roubado enquanto rememora as lembranças amargas de um relacionamento fadado à ruína, vendo até onde é capaz de ir para afastar os filhos do ex-marido, mesmo que para isso seja preciso cair na clandestinidade e comprometer o bem-estar das crianças. O mais desconcertante na escrita de Harwicz é o fato de ela esconder do leitor o que está acontecendo para focar em eventos anteriores ao surto. A velocidade com que conta nos desnorteia, mas ao mesmo tempo sua narrativa hipnótica segura sua narrativa e nos mantém intrigados tanto sobre as causas do seu surto quanto o que foi realmente que aconteceu. Ela opera portanto em dois tempos simultâneos: no presente-agora e no passado imediato. Impossível parar de ler. Tradução da ubíqua Silvia Massamini Felix, ed. Instante.
11: As aulas de Hebe Uhart, de Liliana Villanueva
A argentina morou em Berlim, Moscou e Montevidéu e sua fome de mundo a torna uma excelente repórter de turismo. Mas neste livro ela se dedica a reunir as lições de sua mestra de escrita criativa, Hebe Uhart, que há trinta anos formava escritores por lá. Como professor de escrita criativa, tenho alguns desses manuais em casa (e obviamente não sigo suas lições ao pé da letra) e também estou dando os retoques finais no meu próprio manual, 200 Lições Submarinas. Todo bom manual de escrita é uma reflexão sobre o escrever – não necessariamente sobre literatura, mas também; focar no processo em si faz com que cada escritor redescubra seus próprios valores éticos e estéticos. Muitas vezes tais manuais descambam pra cagação de regras ou pra decálogos tipo os do Horacio Quiroga ou do Julio Ramón Ribeyro. Gosto de seletas de ensaios como os da Olga Tokarczuk, Escrever É Muito Perigoso, que mais desnorteiam do que orientam. Este da cronista de viagens Lilian Villanueva está no meio do caminho: ao apoiar-se nas lições de sua mestra, ela acaba fazendo pequenos ensaios sobre a escrita de adjetivos, construção de personagens, crônicas, monólogos interiores, além de abordar temas como o humor, a linguagem, os diálogos. Gosto de suas citações: logo no começo ela recorda uma frase sagaz de Felisberto Hernández, “toda arte da escrita é fazer uma digressão e saber voltar”. O livro integra a coleção Errar Melhor, curada por Joca Reiners Terron, e foi traduzido por Diogo Cardoso para a WMF Martins Fontes.
10: A Vingança das Bibliotecas, de Tom Gauld
O cartunista escocês é a prova de que você não precisa ser um virtuose pra brilhar na arte serial – muitas vezes seus personagens são meros bonequinhos, seus cenários são simples, seus enquadramentos são quase sempre os mesmos. Mas quanta elegância! Sem falar que chegar a um traço imediatamente identificável é privilégio de poucos. Uma vez disse a Arnaldo Branco que ele era o melhor pior desenhista do país e ele ficou magoado. O que quis dizer é que ele não precisava fazer um traço super sofisticado pra você identificá-lo: você bate o olho e sabe que é dele. Coisa pra poucos. O traço é um dialeto que o leitor já conhece, já se sente à vontade, acolhido. E é o que sentimos ao bater o olho nos bonequinhos de Gauld: sabemos que entraremos em um território de inteligência viva, de piadas meio tolas mas agridoces, um humor meio surrealista mas com olhar crítico para os vícios de comportamento atuais. Este compêndio reúne suas melhores tiras cujos protagonistas são os livros (ele também faz piadas com temas científicos ou passeia pelo mundo da fábula e da FC, como nos belíssimos Golias e Guarda Lunar). Traduzido por Érico Assis, saiu pela Todavia.
9: O Fim do Maxixe, de João do Rio
O melhor cronista do Brasil da belle époque foi ressuscitado como padroeiro da última Flip e teve várias reedições. A que usei em meu curso de crônicas lá em Paraty é esta esperta seleção organizada pela pesquisadora Juliana Bulgarelli que traz textos de do Rio e de outros pseudônimos do carioca Paulo Barreto. As coisas estão sempre acabando… e nesta crônica-título o dândi jornalista reclamava na decadência do maxixe, uma espécie de tango tropicaliente, que estaria sendo substituído nos salões chiques e também nos populares por danças supostamente mais sofisticados e “francesas”. Curioso é que João do Rio, que tinha o faro tão fino tanto para o morro quanto para os salões, não tenha notado nesta crônica que o maxixe estava sim morrendo, mas para dar lugar ao gênero que hoje define o Brasil: o samba. É por isso que é bom ler crônica: justamente por ser um gênero datado, expressa com agudeza o espírito da época - melhor que muito livro de História. Esta seleta reúne outros clássicos, como “Rio de Janeiro, cidade janeleira”, textos sobre as novidades que eram o divórcio e o telefone (esta é uma delícia), textos sobre greves e questões trabalhistas, as nascentes tradições carnavalescas, digressões sobre o mundo da moda e até mesmo pitacos sobre a guerra e o patriotismo – onde, com o olho vivo de sempre, percebe nas afeições à germanofilia a fina flor do fascismo. O livro é finalizado por um excelente posfácio de Bulgarelli que serve como um perfil, através de seus vários outros pseudônimos e máscaras. Edição da Chão.
Por falar em Flip, já garantiu sua Morel edição Primavera? Levei as revistas a Paraty e foi muito bacana entregá-las aos colaboradores – 60% do conteúdo teve nomes que passaram pela Flip: Joca Reiners Terron, Micheliny Verunschk, Marcela Dantés, Julia Dantas, Odorico Leal, Evandro Cruz Silva, Mariana Salomão Carrara, Marcílio França Castro, Marcelo Moutinho e João do Rio, além de um recuerdo da Flip de 2004 clicado por Bruno Torturra e de um quiz literário com Ligia Diniz, Jasmina Barrera, Danny Caine, Juan Cárdenas, José Falero, Silvia Tavano, Luiz Antonio Simas, Bruna Mitrano e Lisa Ginzburg.
Sem falar na minha entrevista com Jeferson Tenório, uma das capas, clicada por Renato Parada. A outra capa ficou a cargo de Layla Motta, em ensaio fotográfico sobre a Mata Atlântica; a seção de poesia, com Alice Sant’Anna e Ana Estaregui; as artes visuais, nas mãos de Jeff Costa (uma bela HQ de 16 páginas), Aline Bagre (ilustrando as ficções e as guardas da revista), Eduardo Kerges (ensaio visual) e Pedro Vinício (cartuns). E, como de costume, um ensaio do mestre J.R.Duran, com as touradas conduzidas pela toureira espanhola Léa Vincens.
Morel não tem site nem versão digital. Sua tiragem exclusiva é impressa on demand em papéis mais que especiais pela gráfica Ipsis – garanta a sua comprando direto aqui.
8: As Planícies, de Gerald Murnane
Este é um dos livros mais estranhos que li ultimamente (se você me conhece, sabe que “estranho” é sinônimo de muito acima da média). Um aspirante a cineasta vai à Austrália profunda em busca de paisagens e personagens insólitos para escrever seu primeiro filme. É acolhido em uma grande fazenda de um figurão local, interessado em escalar a própria filha como protagonista do filme. Depois de um espanto inicial com as variedades humanas e suas paixões políticas, o quase-cineasta passa longos dias entre passeios pelas planícies e o mergulho na maravilhosa biblioteca do fazendeiro. E assim passam os dias, e ficamos até o final aguardando a película. A prosa de Murnane, quase sem vírgulas, além de seu afeto pelos grandes horizontes desolados, lembra bastante a escrita de Cormac McCarthy. Mas aqui não há heróis nem vilões nem duelos nem crimes nem fugas. A escrita mesmerizante (trad. Caetano W Galindo, editora Todavia) parece mesmo mimetizar o Outback:
“Todo homem é no fundo alguém que viaja por uma paisagem sem limites”
“Qualquer pessoa cercada desde a infância por uma abundância de terra plana há de acabar sonhando com a exploração alternada de duas paisagens - uma continuamente visível, mas jamais acessível e outra sempre invisível apesar de cruzada e recruzada todo dia.”
“Podiam antever outra manhã em que viessem se abrigar do sol e começassem a beber firme e constantemente até que o brilho atordoante do mundo fosse um mero horizonte cintilante na borda mais distante de seu profundo crepúsculo particular.”
7: O Discurso da Pantera, de Jérémie Moreau
Apesar de estarmos vivendo no Antropoceno (ou talvez por causa disso mesmo?), que pressupõe a influência humana sobre as idades geológicas, cada vez mais vemos na literatura a influência do conceito antropológico do perspectivismo ameríndio - que retira o humano de seu papel central na cultura e supõe a agência de outros seres, outros modos de existir. É o caso de livros como Autobiografia de um Polvo, de Vinciane Despret, de Onde Pastam os Minotauros, do supracitado Terron, ou de A Árvore Mais Solitária do Mundo, de Mariana Salomão Carrara. Nesta HQ (trad. Maria Clara Carneiro, edição da Veneta), Moreau dá voz a dragões-de-Komodo, búfalos, águias, macacos e outros animais, porém sem antropoformizá-los, e sim observando o mundo a partir de suas perspectivas. A narrativa lírica e a beleza dos desenhos tornam este livro um prazer para leitores de todas as idades.
6: Somos Animais Poéticos, de Michèle Petit
Por falar em animais, a antropóloga Petit propõe que há 40 mil anos os humanos só conseguem ser felizes ao capturar “inútil essencial”, ou seja, a arte como expressão de subjetividades. Para você que volta e meia me pergunta “Ronaldo, me indica um livro bom?”. este é um livro sobre livros: a cada ensaio ganhamos recomendações de autores e obras, meu exemplar já está todo grifado (trad. Raquel Camargo, Editora 34). Como a própria autora apresenta, são ensaios “que tratam da beleza que permite transfigurar o pior após anos trágicos; da transmissão cultural, particularmente no exílio, que é o destino atual de tantas crianças mulheres e homens; da forma como habitamos um lugar, como nos ocupamos do mundo, das paisagens interiores que nos constituem, dos sonhos dos quais somos feitos e que a literatura ajuda a reencontrar; das bibliotecas, essas casas do pensamento onde, de tempos em tempos, inventam-se novas maneiras de viver junto.” Ou, lembrando Todorov, um livro que desvenda por que “o ser humano tem tanta necessidade de se comunicar com o mundo quanto com os seres humanos”.
5: Chuva, de Dalton Trevisan, ilustrações Guazzelli
Enquanto escrevo e a chuva jorra lá fora, cai na mão este livro: na categoria “livros pra dar de presente”, é um must, como diziam os maias e astecas - e também funciona para todas as idades. Partindo de um conto lírico de Trevisan, o Alemão criou imagens poderosas e inspiradoras. Se as imagens criadas pelo Vampiro de Curitiba já são em si bastante substantivas, o talento do quadrinista gaúcho está em capturar detalhes do texto e amplificá-los visualmente, expandindo a capacidade de imaginação do leitor. Uma belezinha da Reco-Reco, novo selo de quadrinhos da Record.
4: O Cinema de Perto, de Carlos Drummond de Andrade
O fim das coisas
Fechado o Cinema Odeon, na rua da Bahia.
Fechado para sempre.
Não é possível, minha mocidade
fecha com ele um pouco.
Não amadureci ainda bastante
para aceitar a morte das coisas
que minhas coisas são, sendo de outrem,
e até aplaudi-la, quando for o caso.
(Amadurecerei um dia?)
Não aceito, por enquanto, o Cinema Glória,
maior, mais americano, mais isso e aquilo.
Quero é o derrotado Cinema Odeon,
o miúdo, fora-de-moda Cinema Odeon.
A espera na sala de espera. A matinê
com Buck Jones, tombos, tiros, tramas.
A primeira sessão e a segunda sessão da noite.
A divina orquestra, mesmo não divina,
costumeira. O jornal da Fox, Wiliam S. Hart.
As meninas-de-família na plateia.
A impossível (sonhada) bolinação,
pobre sátiro em potencial.
Exijo em nome da lei ou fora da lei
que se reabram as portas e volte ao passado
musical, waldemarpissilândico, sublime agora
que para sempre submerge em funeral de sombras
neste primeiro lutulento de janeiro
de 1928.
Quase um século atrás um cinema fechava em Belo Horizonte e o vintanista Drummond já chorava suas pitangas. É bom pra nos dar uma perspectiva, a nós cinéfilos que cada vez menos vamos às salas lotadas de gente mal educada que se entope de pipoca e não consegue ver um filme sem falar alto ou mexer no celular. Desde sempre o cinema é uma arte do FIM, e você já reparou que os filmes não encerram mais com THE END? Organizada por Pedro Augusto Graña Drummond, neto do bardo, e pelo editor Rodrigo Lacerda (Record), esta seleta traz poemas e crônicas demonstrando a influência que o cinema teve sobre nosso poeta maior.
3: Tédio Terminal, de Izumi Suzuki
Se Black Mirror se passasse no Japão de 40 anos atrás, este seria o livro. Afinal sai no Brasil - depois de uma versão em inglês que estremeceu o mundo da ficção especulativa - este clássico da literatura cyberpunk. Nos anos 1970/80, Suzuki foi a modelo favorita de Nobuyoshi Araki e atriz de filmes pink (o gênero pornô underground nipônico), além de ser casada com o saxofonista de vanguarda Kaoru Abe. Mas, acima de tudo, foi jornalista e ficcionista, colaboradora de revistas de música e cultura, e escreveu quatro livros antes de se suicidar, aos 35. As fascinantes ficções desta joia (trad. Andrei Cunha, Rita Kojl e Eunice Suenaga, editora DBA) trazem muitas mulheres protagonistas - novidade para um gênero tão machista como é a FC - e histórias de planetas só de mulheres, mundos em que monstros vivem como uma família humana virtual e uma distopia em que o uso de uma certa substância contra a ansiedade faz com que o tempo acelere absurdamente a decrepitude do corpo. A prosa fria, as cenas meio nonsense, a trilha sonora estadunidense e os diálogos apáticos me levam a crer que Haruki Murakami deve ter bebido umas e outras com miss Suzuki. Um dos lançamentos do ano.
2: E Depois Também, de João Bandeira
Dois
I
Já um pouco sonolento
deixou o livro de lado
e subiu as escadas
para ir escovar os dentes
Passando pelo quarto
perguntou a ela
lendo recostada na cama
Onde a pessoa pode comprar um caleidoscópio?
Não veio resposta e ela disse
Qual o contrário de promisso?
II
Segunda-feira ainda está longe
mas você pode me chamar a qualquer hora
até eu morrer
E depois também
Beleza de poema amoroso desta plaquete do poeta paulistano, especialista em captar imagens substantivas e olhar para o cotidiano com ternura, humor e sutileza. Mais um mimo da cada vez mais imprescindível coleção da Círculo de Poemas.
1: O Pobre de Direita, de Jessé Souza
Achou que eu não ia falar da eleição do Trump? Achou errado, tolinha/o. Enquanto os democratas ainda tentam colar os tais caquinhos de seu narcisismo hipócrita - que louva a paz dentro de casa mas gasta bilhões financiando guerras fora - , e por aqui a esquerda foi varrida das eleições municipais, ainda dá tempo de arrumar a casa para que 2026 não vire outro pesadelo. O “pobre de direita” é um personagem daquela famosa piada atribuída a Tim Maia: “O Brasil não pode dar certo: aqui puta se apaixona, traficante cheira e pobre vota na direita”. Bem, não é só no Brasil que o white trash vota na direita, como vemos na segunda eleição de Trump, massivamente eleito com votos das classes baixa e média baixa pouco instruídas, brancos e de meia e terceira idades. O sociólogo Souza demonstra aqui como o sonho da igualdade social da esquerda, longínquo e meio cínico, não conversa com as camadas baixas da população, que, desiludida, sonha com as mágicas de palhaços como o ex-coach candidato à eleição em SP e o famigerado homem laranja. O ressentimento contra as elites ilustradas produz, para Souza, uma “vingança dos bastardos”, que, desassistidos pelo sistema, querem mais é que o sistema exploda. Está dando certinho. Leitura obrigatória para entender o famoso “volta pra base, jão” do mestre Mano Brown. Edição da Civilização Brasileira.
Gracias pela leitura!
Abraços,
Ronaldo Bressane
o desespero de terminar de ler uma news com recomendações tão bem feitas que você deseja ler absolutamente todas elas. haja vida e trabalho pra sustentar nossas bibliotecas.
Pena que meu bolso já está vazio.
Anotados para quando eu puder esvaziá-lo novamente.
Hahahaha
Um beijo.