Quem cura os curadores?
A treta entre Mãeana e GG Albuquerque, reflexões sobre a crítica contemporânea e oito dicas de livros pra você ler – ou instagramar e fingir que leu (quem se importa?)
Cantora Sudestina vs. Crítico Nordestino: quem ganha esse rodeio?
Não consigo ver defunto sem chorar e sou sommelier de treta, então não pude me esquivar do recente telecatch Mãeana X GG Albuquerque. O sagaz pernambucano, doutor em estéticas da imagem e do som e titular do perfil O Volume Morto, soltou um vídeo que abre assim: “Uma das coisas que mais odeio é Mãeana cantando João Gomes”.
Mandou mal no uso do verbo “odiar”. Ou bem... afinal, o algoritmo do Meta adora engajar discursinho no veneno. Amor é coisa de hippie, meu amor, o que engaja mesmo é furar o olho do coleguinha. Em um tuíte anterior, GG já tripudiava: “Meu maior inimigo na brasileira contemporânea é Mãeana canta João Gomes. Comparado a isso, agronejo é inofensivo.”
Críticos que pretendem ser levados a sério não têm “inimigos” nem “odeiam”. E artistas não deveriam responder a críticos nas redes nem repetir idiotices como “crítico é um artista frustrado”. São obviedades que de vez em quando os adultos da sala precisam lembrar a zennials e millenials.
Isso posto, o vídeo muito bem editado de GG disseca com racionalidade as razões de tal ódio – sem explicitar, meu caro Watson, o fato de o crítico ser pernambucano. Noventa e nove por cento dos meus amigos pernambucanos detestam Mãeana, e imagino que GG deve ter vocalizado o desgosto bairrista por ver um símbolo da pernambucanidade “sequestrado” por uma cantora carioca que, casada com o carioca Bem Gil, é abençoada por uma das joint-ventures mais poderosas da música brasileira: o casal baiano-paulista Gilberto Gil e Flora Gil.
A cantora, que já tinha um trabalho autoral consolidado, estourou com o álbum Mãeana canta JG, também produzido por Bem Gil, em que aproxima o piseiro brega do prodígio de Petrolina à bossa nova inventada pelo gênio de Juazeiro – as cidades distam apenas 6 km. Mãeana e Bem Gil batizaram de pisa nova o experimento genético do forró joãogilbertizado. Uma boa matéria sobre o enredo (com carinha de assessoria de imprensa da família Gil...) saiu na Billboard.
O argumento de GG é que enquanto o JG baiano reimaginou o samba afro através de uma sofisticadíssima batida de violão, a cantora carioca higienizou o JG pernambucano, limpando a estridente e percussiva expressividade afros, próprias ao piseiro, em busca de uma estética minimalista e “clean” (semelhante ao que a banda francesa Nouvelle Vague fez com hits punk e pós-punk). Essa limpeza facilitaria a entrada da cantora de voz macia e beats suaves em rádios e públicos aos quais o popularesco piseiro não tem acesso – movimento que a amiga e crítica Pérola Mathias chamou galhofeiramente de estética chão de taco (Pérola tem uma resenha polêmica sobre a Mãeana aqui). Em outras palavras, a cantora estaria sendo oportunista, mais uma a usar a arma favorita dos brancos contra negros: a apropriação cultural.
Em tuíte de 26 de agosto (recuperei com VPN, desculpa, Xandão, não me prende!), GG disparou: “engraçado que o discurso (raso, simplista, básico) de que a ‘bossa nova foi um embranquecimento do samba’ é repetido por aí a torto e a direito mas ninguém diz que essas versões belle e sebastian de joão gomes, um artista em plena atividade, é embranquecimento e higienismo???”.
É um argumento crítico legítimo... mas discutível. É fato que muita gente da classe média branca sudestina tomou contato com o piseiro de João Gomes através de Mãeana. Eu mesmo só cheguei nele através dela. Surrando meu algoritmo do Spotify, garimpando cantoras (Morel adora cantoras, sabem os leitores), apareceu esse álbum da Mãeana, figura que eu desconhecia. Na mesma semana assisti o espetacular Motel Destino, de Karim Aïnouz, que tem uma cena ao som de “Meu pedaço de pecado”, hit de JG coverizado por Mãeana. Sim, mea culpa desconhecer o cantor mais tocado no Brasil em 2021; naquele ano eu estava ouvindo outras coisas. Bem, atrasado ou não, em 2024 botei os dois músicos nas minhas playlists.
O argumento central do “ódio” de GG Albuquerque em relação a Mãeana – a sudestinização higienista da música nordestina – não é novo. Nos anos 1990, Fred Zero Quatro já mandava: “Não espere nada do centro/ se a periferia esta morta/ Pois o que era velho no norte/ se torna novo no sul” (“Destruindo a camada de ozônio”, clássico de Guentando a Ôia, marco do manguebeat. Aliás, a biografia dos 40 anos da banda de Candeias, escrita por Pedro de Luna, está em pré-venda).
Tenho dúvidas se o argumento faz o mesmo sentido hoje, quando a internet descentralizou o antigo eixo Rio-SP e estabeleceu novas dinâmicas de poder, mediadas pelos monopólios digitais (Spotify. Alphabet, Meta, Apple, Amazon, TikTok etc). Todo mundo sabe que o pólo da música contemporânea brasileira é Goiás, produtor em série de duplas sertanejas, gênero tão monopolista quanto o cultivo da soja, da cana-de-açúcar e da criação bovina. O próprio sucesso massivo de João Gomes prova essa descentralização. Curtido no ambiente sertanejo raiz – a vaquejada nordestina é mais roots do que os rodeios fake de SP e do Centro-Oeste –, JG nasceu no sertão pernambucano, foi produzido no Ceará e de lá explodiu pelo Brasil. Nunca precisou de uma Mãeana de chapelão de peão psicodélico pra fazer sucesso no sul-maravilha – aliás o garoto, esperto, já elogiou a cantora, e já ganhou perfil na piauí.
Mais que puritano, na onda de um Zé Tinhorão, acho o argumento da apropriação cultural de GG ingênuo e ele próprio purista e higienista, posto que a cultura se produz com apropriações desde que o mundo é mundo. É claro que a todo crítico é necessário ficar esperto com movimentos extrativistas coloniais, plágios e roubos. Mas nem tudo é conspiração – embora, no fim, o pós-capitalismo acabe se apropriando de tudo, insira aqui o emoji kkkrying.
Lembro de uma conversa que tive com Milton Hatoum a respeito de uma treta antiga – aquela vez em que uma moça branca vista no metrô de turbante de batik foi cancelada no Twitter por supostamente querer “parecer negra”, por roubar o uso de um acessório dos legítimos representantes da veste. A polêmica piorou quando se descobriu que moça usava o turbante por estar em processo de quimioterapia, e portanto escolheu um lenço africano como modo de ocultar a careca e se sentir bonita. Hatoum me lembrou que, além de o batik ser uma invenção holandesa e não africana, como se acredita hoje, turbantes eram usados por vários outros povos, além dos africanos, tanto do Oriente Médio quanto da Ásia...
Quem apropriou quem?
Além de ouvidos atentos, é preciso discernir que nariz de porco não é tomada. Até tem quem ouça o galo cantar, mas não sabe dizer onde. Outro dia em um colóquio acadêmico na USP ouvi que o funk carioca é uma expressão brasileira tão afrodiaspórica quanto o samba, o maracatu e, claro, a bossa nova. É um pouco verdade, mas não é toda a verdade. Há toques de macumba usados em vários funks cariocas, sim. Mas muitos emulam um sample usado pelo Bonde do Tigrão lá nos anos 2000, roubado do hit “Headhunter”, dos belgas do Front 242, banda cuja influência declarada é o grupo alemão Kraftwerk. Grupo que, todo mundo que já dançou sabe, era venerado por Afrika Bambaataa, criador do miami bass, estilo de hip hop protofunk com batidas graves pesadas e letras sexuais explícitas. Estilo muito tocado nas pistas lá nos anos 80 pelo dito criador do funk carioca, DJ Marlboro. Vamos devagar com o andor do purismo cultural.
(Um ponto que poderia ser mais explorado pela crítica é como a antropofagia, este pilar do Modernismo paulista, que sustenta a ética e a estética tropicalista - uai, não é que Caetano Veloso virou além de tudo cantor gospel? -, até a antropofagia foi devorada pelo grande capital. Cenas dos próximos capítulos: o perspectivismo ameríndio de Viveiros de Castro à venda nas gôndolas de decoração da Leroy Merlin.)
Tretas culturais expressam disputas políticas territoriais. É chover no molhado dizer que o sertanejo, gênero onipresente, é expressão estética e ideológica do agrobusiness – o poder de facto no país cuja “campeã nacional” JBS é a maior produtora de carne do mundo. Se gosto se discute sim, não é só o sabor, é o poder da picanha por trás. Crítica – o outro lado do balcão da arte – disputa territórios também com quem produz. Disputa pela atenção. Eis no que deu a dinâmica das redes.
Mãeana (76 mil seguidores) se sentiu silenciada pela crítica agressiva de GG (42 mil seguidores). Ela reclamou diretamente com o crítico, em comentário, e ainda fez um post se mostrando vitimizada. Bem, talvez a crítica tenha sido mesmo pesada, mas é jogo jogado – artista responder a crítica pelo Instagram transparece amadorismo. O fandom de Mãeana correu para detonar GG, cujo fandom nordestino também correu para defender seu ponto de vista. A cultura do cancelamento fez o resto, criando dois pólos excludentes: os pró-artista e os pró-crítico.
O que chama mesmo atenção é como, em uma época em que os artistas dispensem veículos culturais, podendo falar direto com seu público, uma invalidação possa soar tão grave, mesmo vinda de um crítico independente. Sinal do poder da crítica? Não exatamente. Os monopólios digitais ensinam que, no mundo que aboliu o broadcast e estabeleceu o everycast, é lucrativo empoderar a cultura do react, dando ao ouvinte/espectador/leitor tanto ou até mais poder que o artista que originalmente criou ou produziu uma obra de arte. Afinal, o react também é chamado de “conteúdo”.
Conteúdo é tanto criar uma canção quanto fazer um vídeo grunhindo e careteando em reação a uma canção. Outro dia eu vi um youtuber resenhar resenhas de livros na Amazon. Isso mesmo – a chamada metacrítica. A última vez que vi, o youtuber tinha milhares de visualizações. Talvez o resenhador de resenhas ganhe mais dinheiro do que os próprios autores dos livros originalmente resenhados. Um dos maiores e mais ricos comunicadores do país, Cazé, subiu na vida fazendo reacts de qualquer coisa, de vídeos de jogos de futebol a receitas de bolo.
No momento em que escrevo essa resenha de fofoca, conhecida antigamente como crítica cultural, Mãeana reconheceu no Instagram que se passou, que não devia ter se vitimizado etc etc. Já GG ainda não descadeirou sua tréplica. Não vou me espantar se, daqui uns anos, GG virar curador de algum festival neoafrodiaspórico e convidar João Gomes... pra tocar com Mãeana. A internet e o capitalismo aceitam tudo, e a nós na plateia só cabe mandar nossos joinhas. Como cantaria um negro carioca muito admirado pelo branco romântico João Gomes, “do amor restará só o cinismo”.
#pilhadeleiturasperdidas
“Recentemente vi que se popularizaram influenciadores que julgam livros no Instagram apenas fazendo caretas e gestos. A crítica, que era uma maneira de prolongar a experiência de leitura através de gestos de escrita, foi reduzida a isto: uma pessoa fazendo caretas e levantando ou abaixando o polegar. Um inesperado retorno à animalidade, mas não pela via interessante e sim pela via do fim da conversa sobre livros.”
Esse é um trechinho da entrevista que fiz com o escritor colombiano Juan Cárdenas na Morel #13 que sai semana que vem. Então vamos lá para as minhas caretas sobre sete recentes leituras. A começar pelo Cárdenas:
O Diabo das Províncias (DBA). Um pequeno clássico pós-colonialista. O enredo parte de um tropo do bildungsroman: a volta ao lar. No caso, um biólogo que viveu 15 anos na Europa fica desempregado e é forçado a retornar à pequena cidade natal na Colômbia, pra trabalhar como professor em um internato católico. Cárdenas não escolheu à toa a profissão do protagonista: um homem de ciência, admirador de Humboldt, o alemão que desbravou a Amazônia, agora nota que o território outrora idílico está sendo devastado pela monocultura do agro – no caso colombiano, o óleo de palma (sim, esse mesmo em que você frita suas batatinhas). Do meio pro fim o livro pega ritmo de suspense: uma conspiração diabólica – juntando um antigo crime insolúvel que tolheu a vida do irmão, um acidente que mutilou uma ex-namorada, mortes e gravidezes no internato e as maquinações políticas da mãe – faz com que o biólogo tenha a vida de novo enredada na província. Uma tragédia, sim. Tradução de Marina Waquil.
Cupim, de Layla Martínez (Alfaguara). Fazia tempo – desde Stephen King? – que eu não sentia arrepio lendo um livro de terror. Este aqui é do gênero casa malassombrada. Mas é muito mais. Narrado de duas perspectivas, da neta e da avó, o enredo explora questões de classismo, feminismo e violência política de uma forma muito assustadora. A escrita da espanhola Martínez, quase sem vírgulas, com frases se emendando em períodos às vezes longos, passa a sensação de uma voz sem fôlego. Mas na verdade o fòlego narrativo é tão intenso que em um dia você mata a leitura. Há um mistério, um menino filho de uma família rica em um povoado da Mancha espanhola, que desapareceu enquanto estava sob a guarda da neta. Os outros homens da história – o avô, o pai – também sumiram, bem como a mãe. Na casa há um armário cheio de sombras que parece ter fome de almas amaldiçoadas. E a avó, que dialoga com santos e sombras, faz “amarrações”, trabalhos espirituais, a pedido da gente supersticiosa do povoado. A neta quer fugir da casa, mas não consegue. Depois que você termina o livro, tem a sensação de que sua alma foi roída por um cupim. Tradução de Joana Angélica D’Avila Melo.
Impostora, de Rebecca Kuang. Já que falei acima de apropriação cultural, eis uma maneira criativa de abordar o tema. A premissa do livro é original. É narrado por uma escritora estadunidense branca medíocre, que morre de inveja de sua amiga, uma escritora sino-americana prodígio, linda, sofisticada e best-seller. Uma noite, a sino-americana morre em um acidente – e a estadunidense aproveita para roubar o manuscrito que ela estava escrevendo, contando como os chineses foram maltratados nos EUA durante a Primeira Guerra (sim, vem de longe o preconceito trumpista contra asiáticos). Claro que a branca o publica como se fosse seu e o livro vira um best-seller. As coisas complicam quando algumas pessoas passam a suspeitar: mas por que uma branquela escreveria um livro sobre problemas amarelos? A grande ironia da premissa, que agrega outra camada à discussão sobre colonialismo e apropriação cultural (em inglês o livro se chama Yellowface, expressão análoga a blackface só que para orientais), é que Kuang de fato é um prodígio. Nem tem 30 anos e já venceu todos os prêmios de literatura fantástica possíveis, além de ser de fato uma best-seller linda e bem-sucedida, como se vê em seu Insta (184 mil seguidores).
A Ligação, Katharina Volckmer (Fósforo). Esse é um livro angustiante e engraçado ao mesmo tempo. Me lembrou uma antiga reportagem escrita pela Vanessa Barbara na piauí sobre sua horripilante experiência em um callcenter. Também lembra, claro, The Office. Se passa em um único dia na vida de um funcionário de um SAC de uma agência de viagens que destrata os clientes com respostas irônicas e mordazes. Ameaçado de ser despedido por mau comportamento, o funcionário, gay em crise, está de olho em um colega, que ficou fora de alcance porque acaba de subir na hierarquia do SAC, e tem problemas com a mãe, com quem ainda vive, além de se sentir desconfortável com o próprio corpo, pois tem sobrepeso, e, pra piorar, ainda por cima é italiano e se chama Jimmy, nome nada italiano – portanto sofre bullying dos colegas, nenhum deles inglês, embora o SAC esteja em Londres. Volckmer, a alemãzinha autora do hilário A Consulta, em que uma mulher quer fazer um procedimento para se tornar um homem trans e tem pensamentos pecaminosos com Hitler, é craque em nos fazer passar vergonha rindo.
Folkmusic, de Grail Marcus (Zain). Um dos grandes biógrafos e repórteres do rock em todos os tempos, Marcus sabe só um pouquinho mais de Bob Dylan que Peninha Bueno e Fabrício Corsaletti. Aqui ele pega algumas canções-chave do Nobel pop como atalhos para desvendar sua misteriosa vida: “Blowin in the wind”, “The lonesone death of Hattie Carroll”, “Ain’t talkin’”, “The times they are a-changin’”, “Jim Jones” e “Murder must foul”. Uma forma criativa de fazer uma biografia, já que as canções atravessam a vida de Dylan de ponta a ponta – e nos ajuda a compreender como referências culturais obscuras na verdade foram extraídas de histórias vivenciadas pelo bardo, e explicam como o racismo contra negros no Meio-Oeste moldou a consciência deste judeu cristianizado (você sabia que no começo do século passado os estadunidenses colecionavam cartões-postais com imagens de linchamentos de negros, e trocavam os postais como figurinhas? Marcus conta como esse comportamento marcou o jovem Dylan).
O Livro Africano Sem Título - Cosmologia dos Bantu-Kongo, de Bunseki Fu-Kiau (Cobogó). “Por não andar sozinho, o rio é curvo”, e “Não existe privacidade nos assuntos” são dois provérbios dos povos bantu-kongo resgatados pelo filósofo Fu-Kiau. A influência dos bantu-kongo sobre o português que hoje falamos é crucial - mas pouco se fala como a filosofia africana está entranhada no nosso modo de agir e pensar. O entendimento de que não passamos de ondas sonoras, a comunicação pelos sonhos, o big bang em forma de V e os mistérios da morte e da política são alguns temas do belo compêndio de filosofia, obra de muitos anos do pensador congolês, finamente vertido ao português pelo cantor e professor baiano Tiganá Santana.
Línguas, Domenico Starnone (Todavia). Uma amiga me contou que conheceu certa leitora tão feminista que só lia livros escritos por mulheres, e que se orgulhava de ter lido tudo da Elena Ferrante. E Starnone?, minha amiga perguntou. Não, não leio homens, desdenhou a feminista. Ora, mas e se Starnone for de fato o marido da Ferrante? Como não ler Laços, que é o negativo de Dias de Abandono? E se – tudo é possível – Starnone for a própria Ferrante? Bem, deixemos de lado esses absurdos para mergulhar em mais uma fascinante miniatura do gênio napolitano (seus livros nunca passam de 200 páginas), desta vez centrado na crueldade pré-adolescente (quem leu Assombrações conhece a maldade infantil). É a história de amor de um menino esperto e uma garota maravilhosa e enigmática, romance testemunhado pela sábia avó do menino. Nesse coming of age, é também inventário de perdas, e de como, ao ganhar uma língua, perdemos várias outras. Tradução de Maurício de Santana Dias.
Destinatário Desconhecido, Hans Magnus Enzensberger (Círculo de Poemas). Com seleção, tradução, notas e posfácio por Daniel Arelli, esta antologia é um dos lançamentos do ano. Talvez desde O Naufrágio do Titanic (Cia das Letras) eu esperava ler de novo o cara que explodiu minha cabeça na longínqua FAAP, quando caí em Elementos Para uma Teoria dos Meios de Comunicação (gracias, professor Rubens Fernandes). É o tipo de texto que faz falta à poesia contemporânea. Humor, entusiasmo, nonchalance, nonsense, vitalidade, negatividade, imagens surpreendentes e ritmo inumerável, tudo junto, em poemas escritos por um ser humano com carne, osso, miolos e vísceras… não essa poesia anêmica que viceja no Insta, que depois que a gente lê, pensa “que barra!”. Hans manda coisas assim:
Instrução para Sísifo
O que você faz não tem futuro. Certo:
você entendeu, admita,
mas não se dê por vencido,
homem da pedra. Ninguém
vai te agradecer; as linhas de giz
que a chuva lambe indolente
marcam a morte. Não vá se alegrar
antes da hora, não se faz carreira
com o que não tem futuro. Só monstros,
espantalhos e adivinhos vivem à vontade
com a própria tragédia. Cale-se,
troque uma palavra com o sol
enquanto a pedra rola, mas
não se deleite com sua impotência,
acrescente à ira do mundo
cem quilos, um grão.
Faltam homens que façam
em silêncio o que não tem futuro,
arrancando como mato a esperança,
seus risos, o porvir, rolando,
rolando sua ira montanha acima.
Morel #13
Vem aí a edição Primavera, trazendo o primeiro dossiê da revista, dedicado à Flip. Portanto a edição traz convidados desta festa de Paraty: Jeferson Tenório, Marcela Dantés, Luis Antonio Simas, Lisa Ginzburg, Danny Caine, Ligia Gonçalves Diniz, Jazmina Barrera, José Falero, Julia Dantas, João do Rio, Mariana Salomão Carrara, Joca Reiners Terron e muito mais.
Gracias pela leitura!
Abraços,
Ronaldo Bressane
Eu até gosto das versões de MãeAna e entendo a crítica de GG, mas o que me pega mesmo é o público "recente" de João Gomes, classe média alternativa, classe média crítica (hahahah) que só agora tá gostando de piseiro, depois que o artista foi validado por uma mulher branca e integrante da família Gil. ô, preguiça desse povo, viu?
Foi o que aconteceu também com Xande de Pilares, que o povo DO NADA virou fã desde criança, depois que Caetano chorou ouvindo o disco dele (que achei bom, mas acho o trabalho dele autoral infinitamente melhor).
um beijo.
To na primeira linha e já to rachando o bico kkkkk <3